A primeira aparição do
trinca-ferro Titanic em torneios aconteceu entre os anos de 1987 e 1988.
Titanic, que foi apresentado pelo Alexandre (Gallo), da cidade de
Amparo, no interior de SP, veio do estado do Espírito Santo, e desde o
inicio já demonstrou ser um grande trinca, e mesmo sem muita
experiência, estreou na roda ultrapassando os 150 cantos.
Ainda na mão de seu ex-proprietário, Gallo, ele foi bicampeão brasileiro
pela Febraps, e logo após foi repassado para outro passarinheiro,
Marcelo Tamburo, de Jacareí. Nesta época, ele não disputou o Campeonato
Brasileiro e nem o Nacional, porém foi campeão do Vale Paraibano e na
sequência, no final de 2006, foi adquirido pelo seu atual proprietário,
José Carlos Trindade, também conhecido como “Nego”, finalizando o
campeonato do Vale Paraibano.
A equipe da Revista P&C esteve com nego para obter mais informações sobre o desempenho de Titanic, confira!
P&C – quando exatamente você adquiriu o Titanic?
Nego – No final de 2006, Titanic concluiu o torneio conquistando o
título de bicampeão do Vale Paraibano. Em 2007 eu me propus a ir aos
torneios da Cobrap. Nesta ocasião, mesmo com muita gente não
acreditando, eu o preparei, porque este ainda era um título que ele não
tinha. Em 7 etapas do Campeonato Cobrap eu rodei aproximandemente 12.000
kms, fora que também estava disputando o campeonato da Febraps, o qual
ele perdeu com diferença de apenas1 ponto, para um pássaro chamado
“Mistério”, do Fabiano meu amigo.
P&C – Você conhece o Titanic desde quando?
Nego – Desde 1989. Noto que agora ele esta bem melhor, mais
disposto, cantado mais fino e muito mais rápido. Acredito que quanto
mais velho, mais o trinca canta. Tenho visto isso por ele e por outros
também. Alguns surgem já cantando muito e ficam, outros não, mas maioria
vai melhorando com o passar do tempo.
P&C – Fora a idade que deve ter beneficiado, você acha que o tratamento que você dá a ele é adequado? E o Titanic, você estudou?
Nego – Sim, o Titanic sim, desde quando estava nas mão de outros
donos. Ele estava gordo demais quando o adquiri. A principio dei um
voador maior para ele, de quase 3 m de comprimento, pois ele vivia em um
de 1.50 m. Com isso, ele obteve um maior e melhor condicionamento,
ainda mais pelo tipo dele que tem tendência a engordar.
P&C – E hoje como ele se alimenta?
Nego – Ofereço uma alimentação balanceada, com frutas, verduras,
sementes, larvas, mas um coisa interessante, 60% da ração dele é
alpiste, os outros trinca-ferro que tive. Eu vejo o pessoal falar dessas
misturas importadas, de outros lugares, eu nunca dei pra ele, e ofereço
ainda frutas, legumes e verduras diversas.
P&C – E quando chega a época dos torneios, há alguma alteração na alimentação?
Nego – Sim, muda um pouco. Normalmente eu aumento um pouco mais a
alimentação dele, agora eu doso a alimentação conforme o preparo, para
ele não engordar muito por causa do seu biótipo. Quando chega a época do
torneio a alimentação é mais forte. A quantidade de larvas por exemplo,
agora eu dou 3, 4 por semana, na época de torneio 15, 20. Ás vezes levo
umas 10 na viagem comigo, para ele ir comendo.
P&C – E a alimentação no dia de torneio, no dia da prova e na véspera?
Nego – Sempre uma alimentação simples, normal, só umas coisas a
mais como açúcar de uva que eu gosto de dar na véspera do torneio.
Quando saio de viagem já dou e tiro quando chego de vota em casa. E tem
outra coisa que acrescento também que é a romã, tanto a fruta como chá.
Já foi testado e comprovado que ela é boa para as cordas vocais. Então
acho que dentro desse conceito tem dado certo, eu ofereci para ele em
todas as viagens em 2007, ele viajava sempre.
P&C – inclusive nós fotografamos a gaiola de viagem com os poleiros de buriti e por que de buriti?
Nego – Porque eu acho que torna a viagem de 1.200 km muito mais
confortável. Ela é muito mais macia, permite que o pássaro agarre melhor
e no caso de freada do carro, ela não cai. O pássaro se cansa menos. Eu
acho. Que ajuda muito. De pouquinho em pouquinho, no final da uma
grande diferença. São coisas que tive a idéia de fazer, pequei com
pessoas simples que conheço e que fazem e aí apliquei e deu certo.
P&C – E o manejo quanto à fêmea, dose de fêmea, qual é o relacionamento dele com ela?
Nego – O relacionamento dele com fêmea, acontece no sábado, antes
do torneio. Ele mora sozinho, viaja na sexta-feira. A fêmea vai dentro
de uma cabine no automóvel pra não ter nenhum contato visual e nem
auditivo, porque isso é uma coisa que provoca muito ele. Aí no sábado eu
aproximo ela da gaiola dele e ficam os dois lá. Dormem juntos, acordam
juntos, vão ao torneio juntos, chegando no torneio eu o passo para a
gaiola de torneio ele vai para a prova.
P&C – Agora vamos falar do Titanic na roda, não precisamos
falar nada, provar nada porque ele é o campeão Cobrap, o campeonato mais
difícil que se ganha com um trinca-ferro. Do que ele mais gosta na
roda?
Nego – Olha, na roda o comportamento dele praticamente não muda.
Tem gente que fala que o Titanic gosta daquele adversário que pega no
pé, que canta muito, e teve torneio que ele provou o contrário, que ele
não foi bem com adversário dessa maneira, então até hoje eu não sei. E
no Rio de Janeiro ele ficou frente a frente com um grande trinca-ferro e
acabou levando a melhor.
P&C – A gente tem conhecimento de criadores de trinca-ferro
que compram um monte de fichas para escolher estrategicamente o melhor
lugar. Qual é a sua estratégia quanto ao lugar dele na roda?
Nego – Na véspera do torneio só verifico onde vai ser a roda e
pego uma ficha próximo de onde tem qualidade para ele com luz adequada, e
independentemente do adversário. Eu quero garantir um lugar para ele, o
adversário que se preocupe com ele.
P&C – Como foi o desempenho dele no campeonato Cobrap nesta trajetória de 7 etapas?
Nego – Nessas 7 etapas, no primeiro torneio em Araçatuba, eu
viajei com ele e a fêmea na sexta-feira, e foi quando percebi que
exagerei na dosagem de fêmea, deu apenas 160 cantos. Ficou muito nervoso
na roda, querendo pegar e não soltando o canto. Se tem uma coisa que o
atrapalha é a dosagem de fêmea. Quando foi na próxima etapa no Espírito
Santo, já decidi fazer esse teste de viajar com uma fêmea na caixa. Foi
bem melhor. Ele deu 139 cantos em apenas 10 minutos. Na final, ele
estava cantando para ganha o torneio, com 9 minutos de roda, o pessoal
já estava falando que estava ganhado por já alcançava quase 130 cantos.
Ai ele foi tomar banho e ainda finalizou com 178 cantos. Tinha então
acertado a dosagem de fêmea. A 3ª etapa foi no Rio de Janeiro. Quase 300
trincas na roda, eu fiz o mesmo teste e ele finalizou com 190 cantos.
Na 4ª etapa foi em Brasília. A viagem a Brasília é bastante cansativa.
Fui na sexta-feira, onde a fêmea viajou novamente na caixa. No sábado,
já no hotel colei-a nele e deu um grande rendimento. Ele fez 190 e
empatou com o Zandonaide, ficando em segundo no desempate dos 10
minutos, inclusive eu mesmo marquei o Zandonaide. Foi justo!
P&C – Em contagem foram quantos cantos?
Nego – Em contagem fiz o mesmo processo de dosagem, não mudei
nada. 191 cantos, empatou com o segundo colocado perdendo no desempate
também. Depois, a 6ª etapa foi em Florianópolis. Ele obteve um ótimo
desempenho nos 10 minutos. Deu 150 cantos e foi a maior cantada nos 10
que ele deu no campeonato da Cobrap e finalizou com 196, e a última, em
Ribeirão Preto, finalizou com 200 cantos.
P&C – Qual a melhor marca dele na sua mão?
Nego – Ai que está o detalhe. A melhor marca dele na minha mão
foi de 205 cantos, antes da etapa de Araçatuba, no torneio da região do
Vale Paraibano. Ele deu 205 cantos e foi quando fui para Araçatuba e o
coloquei com a fêmea e percebi a dosagem de um passarinho que da 205
cantos num torneio não pode cair pra 160 no outro.
P&C – O que nos podemos notar nessas informações é que ele foi crescendo a cada etapa, é isso?
Nego – Ele foi crescendo a cada etapa até chegar à ultima e
finalizar bem, consagrando se campeão. Essa última, a de Ribeirão Preto,
antes dos 15 minutos finais foi complicada, porque pela velocidade dos
adversários dele e pela sua seriedade, ele sabia que ia dar os seus 190,
200 cantos. E os adversários dele são meio doidos, podem dar 230, como
podem dar 150 cantos, ele não... 150 eu sabia que ele não daria, que
daria a média dele de 190 cantos, sabia que ia cantar em cima do que é.
A minha preocupação era com os adversários, e acabou que assim, nessa
ultima etapa foi uma torcida muito grande do pessoal de São Paulo,
torcendo muito e ele acabou finalizando com 200 cantos, os quais os 15
primeiros minutos eram duas marcações, inclusive o Zandonaide que é
concorrente dele direto estava marcando na mesma hora. O Titanic havia
dado 112 na primeira e eu fiquei contente, porque sei quando ele está
seguro nos 10, é que a dosagem de fêmea esta perfeita, então essa é uma
característica do Titanic, segurar nos 10 e soltar na final, então
avisei os adversários, segura que vem pancada, e veio.
P&C – Quanto deu na segunda marcação?
Nego – Titanic 200 cantos redondos e Zandonaide 174 ou 176, os
dois marcando ao mesmo tempo. Mais ai em seguida tinha o Flipper na
segunda marcação, porque estava do outro lado da roda, fizemos marcação
como em todas as etapas e o Flipper para mim é como o Pelé dos
trinca-ferros, o melhor do Brasil e de todos os tempos em termos de
velocidade, quantidade. Se eu perdesse para o Flipper me consideraria um
campeão mesmo assim, e isso aconteceu num momento em que o Flipper não
estava bem e ele deu um pouco mais de 170. Foi uma loucura. Pedi para o
meu irmão segurar o Titanic e foi só alegria, foi uma verdadeira festa,
repleta de muita emoção. Quando chegou na Anhanguera paramos o carro num
posto e eu cai na grama deitado e falei para meu irmão: “Eu preciso
descansar meia hora ”!. E em frete aos meus amigos sentados, dando
risada, deitei na grama e dormi meia hora de tanto stress.
P&C – Que recado você daria àqueles que gostam de
trinca-ferro e que um dia pretendem ter um dia um trinca-ferro de ponta
como o Titanic.
Nego – Eu costumo falar que passarinho, trinca-ferro de roda é um
pouco de sorte, sorte e ao mesmo tempo muita dedicação.Quando comecei
com roda jamais imaginei ter um passarinho como o Titanic. Eu achava um
sonho impossível, mesmo pela minha situação financeira na época, mas
acreditava que um dia eu ia ter. Quando comecei minhas condições não
ajudavam em nada, mas eu sempre quis ter um trinca-ferro de roda e
sempre tive 130 cantos 140, 150, 160, mas um campeão para campeonato
nunca tive, mas sempre tive o sonho de um dia ter. Quando adquiri o
Titanic eu falei, “agora eu vou ser campeão”! Peguei ele numa época que
estava desacreditado, não estava fazendo essas etapas do nacional. Então
quando não faz essas etapas o passarinho fica esquecido, como ele
estava, mas deu certo.
P&C – O que você preza nos torneios?
Nego – Uma das coisas que eu mais prezo nos torneios é
honestidade. Vejo algumas coisas nos torneios que são questão de
caráter, pessoas que não têm caráter nenhum, que pensam que caneta é o
que manda. Quando o Titanic é avaliado, eu faço questão de que pessoas
sérias estejam marcando e acompanhado isso de perto. Acho que ele merece
isso, e infelizmente tem pessoas que não pensam da mesma maneira,
querem levar de um jeito ou de outro.
Gostaria de agradece algumas pessoas, porque sem elas talvez eu não
teria chegado a este título, pois depois da etapa de Contagem (MG)
cheguei a pensar em desistir. Primeiramente, aos meus irmãos Nondas e
Pool e meu parceiro Vitinho. E também aos amigos: Epaminondas, Bill,
Marcão, Marquinhos, Tamburo, Sr. Aloísio e Fuji(Cobrap), Alexandre Gallo
e Pai Gallo, Di, Kiko, Pastor, Zé Roberto Cazuza, Toco, Afonso,
Eduardo, Rogério (TB), André, Fernando e José Luiz, Sr. Luis (CBSA),
Fabrício, Jair e W. Jesuíno (Brasília). Paulão, Fabinho, Paulinho Boné
(ES), Negão (AR15), Leitão, Alessandro e Sidnei (RJ), etc.
Um abraço especial a todo pessoal de Brasília, onde nós fomos muito bem recebidos.
Confira as conquistas de Titanic
- Campeão Cachoeira do Itapemiri 1997/1998 (ES)
- Vicecampeão brasileiro 199/2000 (FEBRAPS)
- Campeão regional Circuito das Águas 2000/2001
- Vicecampeão brasileiro 2001/2002
- Campeão regional Circuito das Águas 2001/2002
- Campeão brasileiro 2003/2004
- Campeão brasileiro 2004/2005
- Campeão do Vale Paraíbano 2005/2006
- Campeão do Vale Paraíbano 2006/2007
- Vicecampeão brasileiro 2007 (FEBRAPS)
- Terceiro lugar regional 2007 (FEBRAPS)
- Campeão nacional 2007 (COBRAP)
Resumo
- Tricampeão brasileiro
- Bicampeão do Circuito das Ásguas
- Bicampeão do Vale Paraíbano
- Campeão Nacional
OBS: Lembrando que a conquista do título Nacional de 2007, foi
muito difícil e a vitória foi disputada até o último torneio, em
Ribeirão Preto.
Os seus adversários são considerados os melhores do Brasil:
FLIPPER E
ZANDONAIDE.
Fonte: Revista Passarinheiros&Cia nº 49.